domingo, 2 de setembro de 2012

Cotas de Honestidade

Sei que é um assunto polêmico e que muitas pessoas discordam , mas vivemos em uma democracia e resolvi expor minha opinião sobre o assunto das cotas. Li um texto recentemente de um Ilustríssimo advogado, o Sr. Eduardo Mahon publicado no Facebook, e como senti que as palavras dele se encaixaram em meu modo de pensar, ( talvez eu não escrevesse com tão boas palavras) eu estou compartilhando aqui no blog. Iyarobá Mariana de Osum
 
 
 
 
 
 
 
"NÓS PRECISAMOS É DE COTAS DE HONESTIDADE!

Não tenho qualquer receio da polêmica. A controvérsia não me constrange; ao contrário, inspira. Sobre as cotas universitárias, sou contra. E publico o que milhares de professores universitários comungam, mas não ousam escrever publicamente. É que o nível médio do ensino superior vai cair drasticamente, criando um cabo de guerra nas universidades públicas:...
de um lado, faz pressão o governo que facilita o ingresso e, de outro, puxam os docentes que pretendem manter o padrão de exigência. Ou haverá reprovação em massa ou as faculdades albergarão outro cômodo mecanismo – a aprovação automática.
É verdade que o ensino médio privado é favorecido diante do sucateamento da escola pública. É verdade que os cursos mais concorridos das universidades públicas são povoados de alunos egressos do ensino particular. É verdade que há uma cruel reserva social de vagas às inversas. É verdade tudo isso. Mas não é mentira que a reserva de 50% de vagas para alunos com rendimento mais baixo do que a concorrência aberta vai rebaixar o nível. Não é mentira de que haverá reprovações em escala assustadora, abandono da graduação, atrito entre discentes e docentes. Ações afirmativas são, na maioria das vezes, políticas públicas demagógicas e sem sustentação objetiva.
Não é discriminação e nem preconceito. Não me venham com lamúrias desse naipe. Não me intimido com o patrulhamento ideológico costumeiro. Acredito que o discurso ultraliberal da meritocracia é um embuste. No entanto, não menos mentirosa é manobra demagógica para equilibrar o quadro de desigualdades na base da canetada. Educação, como tudo o mais que diga respeito ao ser humano, é um processo lento que demanda planejamento estratégico de longo prazo, investimentos maciços e avaliações contínuas. Triste povo que se curva: não realizam reforma agrária, mas loteiam universidades e aparelham o Estado. Falta a cota que mais interessa no Brasil: a honestidade no poder público.
Compensar a falência do ensino fundamental e médio do setor público com o acesso facilitado na graduação universitária é tão ingênuo como impor a um motor de alta potência andar de primeira e segunda marchas por alguns anos, ‘até o sistema adequar-se’. É a planificação stalinista tão sonhada pelos intectualóides, flerte que seduziu até nações desenvolvidas, provando-se inócuo, décadas mais tarde. O apartheid brasileiro não será resolvido com fórmulas dogmáticas. Será tão difícil entender que não se absolverão os pecados públicos da omissão no ensino fundamental e médio apenas pelas juras de amor no acesso universitário?
Enquanto isso, o aluno sem alternativas na infância e adolescência, aquele que não podem acessar um ensino de qualidade, sonha. Sonha com a redenção universitária, após anos de ausência. Não se enganem os políticos e a burocracia estatal: este mesmo penitente não desculpará a falta de investimento, a desinteligência estatal, o desvio de verbas, o crime continuado contra a classe docente e o abandono tecnológico e humano com os alunos. Não pensem que a medida panfletária terá o condão do esquecimento, porque índices de produtividade, rendimento, crescimento, desenvolvimento ainda se medem objetivamente e não sob as ordens dos governantes que engendram máscaras.
Acredito que era isso que milhares de professores queriam dizer. Não se tornem reféns dessa armadilha, colegas docentes. Mantenham o nível. E reprovem quem não atinge o rendimento adequado, seja oriundo de escola pública ou particular, negro, branco ou amarelo. Esforço e inteligência não estão sob o jugo das cotas. Pelo menos até que o governo nos obrigue à aprovação por cotas, concursos por cotas, sucesso por cotas e, quem sabe, opinião por cotas. Por enquanto, somos livres. E, em nossa liberdade, não há distinções; mas nela, há cotas. Infelizmente.

Eduardo Mahon é advogado."
 

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