sábado, 28 de janeiro de 2012

Amigos...

A LISTA

Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais

Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar

Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora
Hoje é do jeito que achou que seria?
Quantos amigos você jogou fora?

Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você

Quantas mentiras você condenava
Quantas você teve que cometer
Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver

Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber

Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você
(Oswaldo Montenegro)











 Baba Glauber e Pai Edson







AMIGOS
Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.

A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade. E eu poderia suportar, embora não sem dor,
que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências...

A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar.

Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na
sagrada relação dos meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que
os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto de vida.

Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo! Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.

Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer...

Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!

(Paulo Sant'anna)









quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Besouro, o filme, completo.

Besouro (Ailton Carmo) foi o maior capoeirista de todos os tempos. Um menino que -- ao se identificar com o inseto que ao voar desafia as leis da física -- desafia ele mesmo as leis do preconceito e da opressão. Passado no Recôncavo dos anos 20, Besouro é um filme de aventura, paixão, misticismo e coragem. Uma história imortalizada por gerações.
Quando Manoel Henrique Pereira nasceu, não havia nem dez anos que o Brasil tinha sido o último país do mundo a libertar seus escravos.

Naqueles tempos pós-abolição nossos negros continuavam tão alijados da sociedade que muitos deles ainda se questionavam se a liberdade tinha sido, de fato, um bom negócio. Afinal, antes de 1888 eles não eram cidadãos, mas tinham comida e casa para morar. Após a abolição, criou-se um imenso contingente de brasileiros livres, porém desempregados e sem-teto. A maioria sem preparo para trabalhar em outros serviços além daqueles mesmos que já realizavam na época da escravatura. E quase todos ainda sem a plena consciência de sua cidadania. O resultado desse quadro, principalmente nas regiões rurais, onde estavam os engenhos de açúcar e plantações de café, foi o surgimento de um grande contingente de negros libertos que continuavam, mesmo anos após a abolição, submetendo-se aos abusos e desmandos perpetrados por fazendeiros e senhores de engenho.

Assim era sociedade rural brasileira de 1897, ano em que Manoel Henrique Pereira, filho dos ex-escravos João Grosso e Maria Haifa, nasceu na cidade de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano.

Vinte anos depois, Manoel já era muito mais conhecido na cidade como Besouro Mangangá - ou Besouro Cordão de Ouro -, um jovem forte e corajoso, que não sabia ler nem escrever, mas que jogava capoeira como ninguém e não levava desaforo para casa. Como quase todos os negros de Santo Amaro na época, vivia em função das fazendas da região, trabalhando na roça de cana dos engenhos. Mas, ao contrário da maioria, ele não tinha medo dos patrões. E foram justamente os atritos com seus empregadores - e posteriormente com a polícia - que deixaram Besouro conhecido e começaram a escrever a sua imortalidade na cultura negra brasileira.

Há poucos registros oficiais sobre sua trajetória, mas é de se supor que a postura pouco subserviente do capoeirista tenha sido interpretada pelas autoridades da época como uma verdadeira subversão. Não por acaso, constam nas histórias sobre ele episódios de brigas grandiosas com a polícia, nas quais ele sempre se saía melhor, mesmo quando enfrentava as balas de peito aberto. Relatos de fugas espetaculares, muitas vezes inexplicáveis, deram origem a seu principal apelido: Mangangá é uma denominação regional para um tipo de besouro que produz uma dolorosa ferroada. O capoeirista era, portanto, "aquele que batia e depois sumia". E sumia como? Voando, diziam as pessoas...

Histórias como essas, verdadeiras ou não, foram aos poucos construindo a fama de Besouro. Que se tornou um mito - e um símbolo da luta pelo reconhecimento da cultura negra no Brasil - nos anos que se sucederam à sua morte.

Morte que ocorreu, também, num episódio cercado de controvérsias. Sabe-se que ele foi esfaqueado, após uma briga com empregados de uma fazenda. Registros policiais de Santo Amaro indicam que ele foi vítima de uma emboscada preparada pelo filho de um fazendeiro, de quem era desafeto. Já a lenda reza que Besouro só morreu porque foi atingido por uma faca de ticum, madeira nobre e dura, tida no universo das religiões afro-brasileiras como a única capaz de matar um homem de "corpo fechado".

E Besouro, o mito, certamente era um desses.
(you tube de Brito Silva)

domingo, 22 de janeiro de 2012

Conhecendo o Malandro Zé Pretinho

Somente quem conhece esta Entidade pode contar sobre o imenso magnetismo que ela possui, como li em algum lugar a seu respeito uma vez a expressão " essência carismática envolvente, sem se dar o luxo de ser vulgar" Sua presença inspira um ambiente leve, gosta de estar rodeado de pessoas, dá a cada um a sua devida atenção, e presenteia a cada um com a sua alegria , criando com o tempo uma grande família, pois ele mesmo diz que quem fala com ele uma vez, fala muitas vezes. É um enorme prazer para esta casa ter Seu Zé Pretinho entre nós, sempre alerta, por este Ilê, por seus filhos, e de quem mais procurar pelo seu Axé. Se os orixás que reinam nesta casa são a base de tudo, o hoje e o amanhã, seu Zé é o alicerce. Não existem palavras para expressar o que ele significa e a gratidão que sentimos, por ele e pelas outras Entidades não menos importantes que estão presentes em nossas vidas. Yarobá Mariana de Osum e Babalorisa Wender de Ogum.  

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Os caminhos de Ifá e os Odus
















           Orumilá é o senhor dos destinos, é quem rege o plano onírico , é aquele que tudo sabe e tudo vê em todos os mundos que estão sob a tutela de Olodumare, ele sabe tudo sobre o passado, o presente e o futuro de todos habitantes do Orum e do Aiê, é o regente responsável e detentor dos oráculos. Acredita-se que Olodumare passou e confiou de maneira especial toda a sabedoria e conhecimento possível, imaginável e existente entre todos os mundos habitados e não habitados à Orumilá, fazendo com que desta forma o tornasse seu representante em qualquer lugar que estivesse.
  Orumilá  auxilia o homem a resolver seus problemas do dia a dia, também ajuda o homem a encontrar o caminho e o destino ideal de seu orì.
   
    Encontra-se num plano mítico e simbólico superior ao dos outros orixás. Se Olodumare é o ser supremo dos Iorubás, o nome que dão ao Absoluto, Orumilá é a sua emanação mais transcendente, a mais alta autoridade em matéria de adivinhação, pelo sistema chamado Ifá.  É o testemunho do destino das pessoas.Os babalaôs (pais do segredo), são  porta vozes "oficiais" de Orumilá seguidos dos Babalorixás e Yalorixás. Também Orumilá fala e representa de maneira completa e geral todos os Orixás, auxiliando pôr exemplo, um consulente no que ele deve fazer para agradar ou satisfazer um determinado Orixá, obtendo desta forma um resultado satisfatório para o Orixá e para o consulente.
   

  Orumilá sabe e conhece o destino de todos os homens e de tudo o que têm vida em nosso mundo, pois ele está presente no ato da criação do homem , e é neste exato instante que Ifá determina os destinos e os caminhos a serem cumpridos pôr aquele determinado espírito. É pôr isso que Orumilá tem as respostas para toda e qualquer pergunta lhe é feita, e que ele têm a solução para todo e qualquer problema que lhe é apresentado, e é pôr esta razão que ele têm o remédio para todas as doenças que lhe forem apresentadas, pôr mais impossível que pareça ser a sua cura.
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   Existem, dezesseis odús principais (signos de Ifá), cujo conjunto forma uma espécie de enciclopédia oral dos conhecimentos do povo de língua Iorubá  totalizando duzentos e cinqüenta e seis, baseia-se num sistema matemático, em que se estabelece 256 combinações resultantes dos 16 odus usados. Cada indivíduo nasce ligado a um Odu, que dá a conhecer sua identidade profunda, servindo-lhe de guia por toda vida, Ifá é sempre consultado em caso de
dúvida, antes de decisões importantes, nos momentos difíceis da vida. 
  
   A interpretação das falas dos búzios de Ifá é feita pelo Sacerdote especialmente preparado para essa finalidade e ocorre através do auxílio poderoso do orixá Exu, o grande mensageiro e intermediário entre os seres humanos e as potências divinas.
 Exu é quem movimenta as peças do jogo para formar as configurações que serão interpretadas pelo Sacerdote. Sem a participação dessa  divindade, as respostas seriam totalmente ininteligíveis para os seres humanos. Após isso, ainda é o orixá Exu que transporta as oferendas para o mundo espiritual e, se forem aceitas, traz de volta a resposta divina, na forma da benção solicitada, torna-se então essa divindade mais um grande aliado do homem na realização do próprio destino.

".......devo lembrar-te de que, se hoje és detentor do poder sobre os 16 Odu Meji, deves a mim este privilégio, ou por acaso te esquecestes da forma como adquiriste este poder? perguntou Exú. Mais calmo, aceitando a meia cabaça com água que lhe estendia seu interlocutor., Orumilá acomodou-se sobre uma esteira estendida no chão e se pôs a lembrar daquilo que Exú estava agora se referindo........Desde muito jovem, Orumilá ansiava pelo saber, e foi informado de que, para obtê-lo, deveria conquistar os favores de uma musa chamada Sabedoria, que se encontrava encarcerada em algum lugar na imensidão do Orun...... partiu sozinho, numa aventura cujas conseqüências não podia avaliar. De concreto, sabia apenas que muitos outros já haviam partido com a mesma intenção e que jamais haviam retornado.....Depois de já haver caminhado muitos dias..........encontrou um mendigo que, estendendo-lhe a mão, pediu um pouco de comida.Metendo a mão em seu embornal, dele retirou um pouco de farinha de inhame....e, de uma pequena cabaça que levava na cintura, um pouco de dendê, misturando tudo e dividindo com o mendigo, comendo, ele mesmo, uma pequena parte do alimento.Depois de alimentar-se, o mendigo, sem revelar seu nome, ofereceu ao jovem, em sinal de agradecimento, o bastão de marim entalhado, dizendo - Bem sei o motivo pelo qual penetraste nesta floresta.. Segue somente tua intuição, deixa-te guiar pela vontade vencer e, em breve, irás deparar-te com uma enorme construção de pedra na qual entrarás com muita facilidade. Os perigos com os quais irás te defrontar estão em seu interior, portanto preste a atenção no que agora vou te dizer.

Com este bastão de marfim, denominado Irofá deverás bater em cada uma das portas dos 16 quartos...pois só assim elas se abrirão.

do interior de cada porta ouviras uma voz que te perguntará: "Quem bate?" e tu te identificaras dizendo que és Ifá, O Senhor do Irofa. A voz perguntará então o que estás procurando,e tu dirás, estando diante da porta do 1 quarto, que desejas conhecer a vida e que queres conquistá-la em nome de EJIOGBE. A porta então se abrirá e conhecerás os misterios da vida que pertencem a Ejiogbe o 1 dos 16 Odus de Ifá.


No segundo....depois de haveres te identificado como da forma anterior, dirás que desejas conhecer IKU, a Morte e que desejas dominá-lo. A porta se abrirá e conhecerás a morte, seus horrores e mistérios, que pertencem a Oyeku Meji , o 2 Odu de Ifá. Se não demonstrares medo em sua presença haverás de adquirir domínio absoluto sobre ele ....


...Na terceira porta encontrarás um guardião denominado Iwori Meji, que depois de reverenciado, te colocará diante dos olhos os mistérios da vida espiritual e dos nove Oruns, onde habitam deuses, demonios e todas as classes de espíritos que irás conhecer de forma íntima, descobrindo seus gostos e maneira correta de apaziguá-los.

Na quarta porta, reclamarás por conhecer o jugo da matéria sobre o espírito, e o guardião desta porta , ODI MEJI, a quem deverás mostrar respeito sem submissão, te ensinará tudo o que for concernete a questão, è necessário que não te deixes encantar pelas maravilhas e pelos prazeres que se descortinarão diante dos teus olhos, pois podem escravizar-te para sempre, interrompendo a tua busca. Lembra-te ainda que a matéria que sequer foi criada, dominará o universo.



Já na quinta porta, quando fores indagado, dirás que procuras pelo domínio do homem pelos seus semelhantes, pelo uso da força e da violência, da tortura, do derramamento de sangue. Aprende tudo que Irosun Meji, ... tem para te ensinar. Mas não utilizes as técnicas ali reveladas, para não te tornares, tu mesmo, vítima delas. Aí tomarás conhecimento dos planos de Olórun em relação à criação de um ser dotado de corpo material.

Na sexta porta ....um gigante do sexo feminino, que saudarás pelo nome de Oworin Meji, e a quem solicitará ensinamentos relativos ao equilíbrio que deve existir no Universo, e então compreenderás o valor da vida e a necessidade da morte. O mistério que envolve a existência das montanhas e das rochas. Ali serás tentado pela possibilidade de obter muita riqueza, mulheres, filhos e bens inenarráveis. Resiste a essas tentações ou verás tua vida ser reduzida a uns poucos dias de luxúria.
......diante da sétima porta. O habitante deste quarto chama-se OBARA MEJI, é velho e de aparência bonachona. Poderá te ensinar prodígios de cura e soluções para seus problemas mais intricados. Dará a ti a possibilidade de realizar todos os anseios e os desejos de realizações humanas.Toma cuidado, no entanto, pois os domínios destes conhecimentos pode conduzir-te à prática da mentira, à falta de escrúpulos e à loucura total.

No oitavo aposento deverás solicitar permissão a OKARAN MEJI para conheceres o poder da fala Humana, que infelizmente será sempre muito mais usada na prática do mal do que do bem. Este guardião te falarás em muitas línguas e de sua boca só ouviras queixas e lamentações. Aprende depressa e foge deste local, onde impera a falsidade e a traição.

Diante da nona...guardião Ogundá Meji, para conheceres a corrupção e a decadência, que podem levar o ser humano aos mais baixos níveis de existência. Naquele quarto, conhecerás todos os vícios que assolarão a humanidade e que a escravizarão em correntes inquebrantáveis.Verás o assassinato, a ganância, a traição, a violência, a covardia e a miséria humana, brincando de mãos dadas, com muitos infelizes que se tornaram seus servidores.

No décimo aposento, deverás apresentar reverências a uma poderosa feiticeira, cujo nome é Osá Meji. Ela vai ensinar-te o poder que a mulher exerce sobre o homem e o por que deste poder. Conhecerás seres portentosos que funcionam na prática do mal. Todos os demônios denominados Ajés se curvarão diante de ti e te oferecerão seus serviços maléficos que, caso aceites, farão de ti o ser mais poderoso e odiado sobre a face da Terra. Aprenderás a dominar o fogo e a utilizar o poder dos astros sobre o que acontece no mundo, principalmente a influência da Lua sobre os seres vivos.Cuida para que estes conhecimentos não te transforme num bruxo maldito.
.... na 11a. porta... seu guardião Iká Meji, o gigante em forma de serpente,te fará estremecer. Saúda-o respeitosamente e solicita dele permissão para descortinar o mistério que envolve a reencarnação, o domínio sobre os espíritos Abiku, que nascerão para morrer imediatamente. Aprende a dominar estes espíritos e, dessa forma, poderás livrar muitas famílias do luto e da dor.
A 12a. ..... Seu guardião se chama Oturukpon Meji, é do sexo feminino e possui forma arredondada, mais se parecendo com uma grande bola de carne. ....... poderá revelar-te todos os segredos que envolvem a criação da terra, além de ensinar-te como obter riquezas impensáveis. Aprende com ele o segredo da gestação humana, e a maneira de como evitar abortos e partos prematuros.

...13a. Bate com cuidado e muito respeito. Neste aposento reside um gigante que costuma comunicar-se........, com a Deusa da criação do mundo. Aprende agora como é possível separar as coisas. Domina o mistério de dissociar os átomos, adquirindo assim, pleno poder sobre a matéria. Aprende também a utilizar a força mágica que existirá nos sons da fala humana, mas usa está força terrível com muita sabedoria. Este gigante chama-se Otura Meji.
...14a. porta, irás defrontar-se com Irete Meji, que nada mais que Ilê, a Terra.Faz com que te revele os seus mais íntimos segredos. Agrada-o, presta-lhe permanentemente reverência e sacrifício. Contata, por seu intermédio, os Espíritos da Terra, e transforma-os em teus aliados. Conhece os segredos de Sakpata, o Vodu da peste que mata e cura da forma que melhor lhe aprouver. Aprende com ele o poder da cura, já que matar é tão mais fácil.

Na 15a. serás recepcionado por Ose Meji, que irá falar-te de degeneração, decomposição, putrefação, doenças e perdas. Aprende a sanar estes males e sai dali o mais depressa possível, para não seres também vitimado por tanta negatividade, que foi gerada em uma relação incestuosa.

Finalmente, a 16a. porta..... Aí reside Ofun Meji, o mais velho e terrível dos 16 gênios guardiões. saúda com terror gritando Hêpa Baba! Só assim poderás aplacar sua ira. Contempla-o com respeito, mas não o encares de frente. Observa que ele não é um gênio como os que conhecestes nas 15 portas que precediam esta. Este é Ofun Meji, aquele gerou os demais, que nele habitam e que dele se dissociam apenas de forma ilusória. Conhece-lo é conhecer todo o segredo do Universo. è isto que buscava Oh! Orumilá. Domina-o e resgata para ti a bela donzela chamada Sabedoria."

  















( Trecho do livro Igbadu, a cabaça da Existência, trecho do blog de "André de Oxossi", e  trecho do blog "Juntos no Candomblé")

sábado, 14 de janeiro de 2012

Olodumare e a criação do mundo

    Ao contrário do que se pensa, o Candomblé é uma religião monoteísta, ou seja, seus fiéis acreditam em um único Deus Supremo, chamado por muitos nomes em virtude de contrações e adaptações das línguas africanas, principalmente o Iorubá. Os dois nomes mais conhecidos do Ser Supremo são Olodumare e Olorum. A palavra Olodumare é contração das palavras Ol' (oni) odu mare (ou ma re ou mo are). A palavra Ol' (oni) significa senhor, parte principal, líder absoluto, chefe, autoridade. Odu traduz-se como algo muito grande, um recipiente profundo, algo muito extenso, pleno. A parte final do nome Olodumare parece ser originada tanto de mare (aquele que é absolutamente perfeito, o supremo em qualidades), quanto das combinações ma re (aquele que permanece, aquele que sempre é) ou mo are, que é aquele que tem autoridade absoluta sobre tudo o que há no céu e na terra e é incomparável. Já o nome Olorum é resultado da contração de Ol' (oni) e Orum, que quer dizer céu, designando o Senhor do Céu.







 Olodumare não recebe cultos diretamente, porém sempre que uma divindade é cultuada em suas orações é lembrado à Olodumare  para que aceite o pedido. Assim, Olodumare é infinito, ou seja, tem todas as perfeições em sumo e ilimitado grau.
A natureza é um conjunto indivisível no qual tudo está contido- a totalidade do universo está presente em todas as partes e em todos os tempos que possam ser considerados. Sem dúvida alguma, existe uma interação completa e misteriosa entre todos os elementos do universo e essa interação une o universo numa única totalidade.


Assim como nas demais religiões monoteístas, segundo o Candomblé, Olodumare criou o mundo material e tudo que está nele, inclusive o homem. Para ajudá-lo nessa tarefa, Olodumare criou também os Orixás, forças sobrenaturais que habitavam o Orum (Céu) e se concretizaram associados às forças da natureza e seus elementos, manifestando-se através desses.



                                                 Lenda da criação do mundo:








Conta a lenda que no princípio dos tempos existiam dois mundos: o Orum, espaço sagrado dos orixás, e o Aiyê, espaço dos seres vivos. No Aiyê primitivo só existia água. Um dia Olodumare resolveu recriar o espaço para a humanidade que também criaria. Incumbiu, então, seu filho primogênito, Orixalá (o nome mais sagrado de Oxalá) da execução dessa tarefa. Entregou-lhe uma cabaça contendo ingredientes especiais: a terra escura inicial, a galinha de cinco dedos, uma pomba e um camaleão. A terra escura deveria ser lançada sobre a imensidão das água . A galinha de cinco dedos deveria ir ciscando a terra para alargá-la o mais que pudesse. A pomba, ao voar, orientaria a extensão da terra expandida e criaria o ar. E o camaleão, atento a tudo, observaria a execução da tarefa atribuída a Orixalá, para reportar os fatos a Olodumare. Assim foi explicado e, com seu cajado (opaxorô) e a cabaça da criação, Orixalá iniciou sua caminhada do Orum para o Aiyê. Passou por Bará (Exu) e não pagou as oferendas devidas, mesmo tendo consultado Ifá e sabendo que devia fazê-lo. Em conseqüência disso, no meio do caminho Orixalá sentiu-se cansado e com sede. Parou para descansar, bebeu um pouco de emu (vinho da palmeira do dendezeiro) e, embriagado, adormeceu. Seu irmão caçula, Oduduà (mais um nome da família de Oxalá), tendo-o seguido, recolheu a cabaça da criação e levou a notícia do ocorrido a seu pai, Olodumare, pedindo a ele que o deixasse cumprir pelo irmão aquela tarefa de grande importância. Olodumare concordou e, enquanto Orixalá dormia, Oduduà criou a terra dos seres vivos. Depois de a galinha ciscar a terra, a pomba orientar a expansão do ar e o camaleão, que deu origem ao elemento fogo, verificar se a tarefa fora cumprida, surgiu a terra firme ou Ilê Ifé (que no idioma yorubá significa "terra que foi sendo ciscada"). Orixalá então, vendo o mundo pronto, mostrou-se arrependido do seu ato de irresponsabilidade perante o pai. E, para que não se sentisse tão humilhado   Olodumare lhe deu outra tarefa de tanta importância quanto a primeira: a de criar o homem que habitaria o Aiyê. Orixalá usou o barro e a água para esculpir bonecos inanimados de todas as formas e de todas as cores. Olodumare, então, soprou a vida nas narinas dos bonecos de barro, criando os seres humanos. Esse sopro da vida é chamado pelos yorubás de emi. Estavam então criados o mundo e o homem.
(Texto de "Associação Cultural Ilè Asé Odé Ìgbò")





quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

"E assim nasceu o Candomblé..."

"No começo não havia separação entre o Orum, o Céu dos orixás, e o Aiê, a Terra dos humanos. Homens e divindades iam e vinham, coabitando e dividindo vidas e aventuras.
Conta-se que, quando o Orum fazia limite com o Aiê, um ser humano tocou o Orum com as mãos sujas.
O céu imaculado do Orixá fora conspurcado.
O branco imaculado de Obatalá se perdera.
Oxalá foi reclamar a Olorum.
Olorum, Senhor do Céu, Deus Supremo, irado com a sujeira, o desperdício e a displicência dos mortais, soprou enfurecido seu sopro divino e separou para sempre o Céu da Terra.
Assim, o Orum separou-se do mundo dos homens e nenhum homem poderia ir ao Orum e retornar de lá com vida.
E os orixás também não podiam vir à Terra com seus corpos.
Agora havia o mundo dos homens e o dos orixás, separados.
Isoladas dos humanos habitantes do Aiê, as divindades entristeceram.Os orixás tinham saudades de suas peripécias entre os humanos e andavam tristes e amuados.
Foram queixar-se com Olodumare, que acabou consentindo que os orixás pudessem vez por outra retornar à Terra.
Para isso, entretanto, teriam que tomar o corpo material de seus devotos.
Foi a condição imposta por Olodumare.
Oxum, que antes gostava de vir à Terra brincar com as mulheres, dividindo com elas sua formosura e vaidade, ensinando-lhes feitiços de adorável sedução e irresistível encanto, recebeu de Olorum um novo encargo: preparar os mortais para receberem em seus corpos os orixás.
Oxum fez oferendas a Exu para propiciar sua delicada missão.
De seu sucesso dependia a alegria dos seus irmãos e amigos orixás.
Veio ao Aiê e juntou as mulheres à sua volta, banhou seus corpos com ervas preciosas, cortou seus cabelos, raspou suas cabeças, pintou seus corpos.
Pintou suas cabeças com pintinhas brancas, como as pintas das penas da conquém, como as penas da galinha-d’angola.
Vestiu-as com belíssimos panos e fartos laços, enfeitou-as com jóias e coroas.
O ori, a cabeça, ela adornou ainda com a pena ecodidé, pluma vermelha, rara e misteriosa do papagaio-da-costa.
Nas mãos as fez levar abebés, espadas, cetros, e nos pulsos, dúzias de dourados indés.
O colo cobriu com voltas e voltas de coloridas contas e múltiplas fieiras de búzios, cerâmicas e corais.
Na cabeça pôs um cone feito de manteiga de ori, finas ervas e obi mascado, com todo condimento de que gostam os orixás.
Esse oxo atrairia o orixá ao ori da iniciada e o orixá não tinha como se enganar em seu retorno ao Aiê.
Finalmente as pequenas esposas estavam feitas, estavam prontas, e estavam odara.
As iaôs eram as noivas mais bonitas que a vaidade de Oxum conseguia imaginar.
Estavam prontas para os deuses.
Os orixás agora tinham seus cavalos, podiam retornar com segurança ao Aiê, podiam cavalgar o corpo das devotas.
Os humanos faziam oferendas aos orixás, convidando-os à Terra, aos corpos das iaôs. Então os orixás vinham e tomavam seus cavalos.
E, enquanto os homens tocavam seus tambores, vibrando os batás e agogôs, soando os xequerês e adjás, enquanto os homens cantavam e davam vivas e aplaudiam, convidando todos os humanos iniciados para a roda do xirê, os orixás dançavam e dançavam e dançavam.
Os orixás podiam de novo conviver com os mortais.
Os orixás estavam felizes.
Na roda das feitas, no corpo das iaôs, eles dançavam e dançavam e dançavam.
Estava inventado o candomblé."

(Igbadu, a cabaça da Existência-Adilson de Oxalá)

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Um pouco sobre os Orixás


         A religião dos orixás esta ligada à noção de familia e hierarquia. A família numerosa, originária de um mesmo antepassado, que engloba os vivos e os mortos. O orixá seria , em princípio, um ancestral divinizado, que, em vida, estabelecera vínculos, que lhe garantiam um controle sobre certas forças da natureza, como o trovão, o vento, as águas doces ou salgadas, ou, então, assegurando-lhe a possibilidade de exercer certas atividades como a caça, o trabalho com metais, ou,ainda, adquirindo o conhecimento das propriedades das plantas e de sua utilização. O poder, "axé" , do ancestral-orixá teria, apos a sua morte, a faculdade de encarnar-se momentaneamente em um de seus descendentes durante um fenômeno de possessão por ele provocada.

        "A passagem da vida terrestre à condição de orixá desses seres excepcionais, possuidores de um axé poderoso, produz-se em geral em um momento de paixão, cujas lendas conservaram a lembrança."

O orixá é uma força pura, axé imaterial que só se torna perceptível aos seres humanos incorporando-se em um deles. Este "ser" escolhido pelo orixá, um de seus descendentes, é aquele que tem o privilégio de ser montado por ele. Torna-se o veículo que permite ao orixá voltar a terra, para saudar e receber as provas de respeito de seus descendentes que o evocaram.
     Voltando assim, momentaneamente, à terra, entre seus descendentes, durante as cerimônias de evocação, os orixás dançam diante deles e com eles, recebem seus cumprimentos, ouvem suas queixas, aconselham, concedem graças, resolvem as suas desavenças e dão remédio para as suas dores e consolo para seus infortúnios! O celeste não está distante... nem superior... e se pode conversar com os deuses e aproveitar da sua benevolência!!!

Sobre os arquétipos:
         Ao se examinarem os iniciados, agrupando-se por orixás, notam-se que eles possuem ,geralmente, traços comuns, tanto no  biótipo como em características psicológicas. Os corpos parecem trazer, mais ou menos profundamente, segundo os indivíduos, a marca das forças mentais e psicológica que os anima. Estes arquétipos de personalidade não são tão rígidos e uniformes como são descritos , pois existem nuances provenientes da diversidade das qualidades atribuídas a cada orixá.

Por que escolher o Candomblé?
 Cada um deve assegurar pessoalmente as minuciosas exigências do orixá, tendo porém a possibilidade de encontrar no Candomblé um meio onde inserir-se, onde pelas mãos de um zelador ou zeladora de santo , guiá-lo e ajudá-lo a cumprir corretamente suas obrigações em relação ao seu orixá.  A partir desta decisão de tornar-se filho ,  cabe ao zelador levar a bom termo a  sua iniciação . Dentro de uma casa de santo, o  não iniciado é chamado "abian" e o filho-de-santo que foi iniciado ao culto é "elégun" ou mais comumente chamado de "iyawo"(iaô).

(Pierre Fatumbi Verger- Orixás, Deuses Iorubás na África e no Novo Mundo)

sábado, 7 de janeiro de 2012

Pierre Fatumbi Verger e sua Obra

Pierre Fatumbi Verger, nasceu Pierre Edouard Leopold Verger, em 4 de novembro de 1902, em Paris. Fotógrafo, etnólogo e babalaô, costuma explicar os fatos de sua vida como conseqüência de acasos ...
Aos 30 anos o primeiro "acaso" importante: tendo perdido todos os membros da família e sem uma identidade mais profunda com o contexto social em que vivia, decide então abandoná-lo. Com uma mochila e uma máquina fotográfica parte em busca de novas experiências e sobretudo do esquecimento de tantas outras. Assim, deixa Paris em 1932 e segue para as Ilhas do Pacífico.
Durante 15 anos viaja por diferentes regiões do mundo, fotografando o lhe desperta o interesse. Pouco a pouco, reúne uma preciosa documentação sobre antigas civilizações em vias de desaparecimento, ou que sofriam profunda transformação em suas tradições culturais. O exame deste material já revela a maestria do fotógrafo e o talento do pesquisador. Neste período conhece e documenta o Taiti (1933), os Estados Unidos, Japão e China (1934 e 37), a Itália, Espanha e África (Sudão, hoje Malí; o Niger, Alto Volta, Togo e Daomé, atual Benin, em 1935); as Antilhas (1936), o México (1937, 39 e 57); Ilhas Filipinas e a Indochina (então constituída por Tailândia, Laos, Camboja e os Vietnams, em 1938); Guatemala e o Equador (1939); Senegal (mobilizado, em 1940); Argentina (1941), Peru e Bolívia (1942 e 46); Brasil (1946). Além de repórter, foi também encarregado do laboratório fotográfico do Musée D’Etnographie (hoje Musée de 1'Homme), em Paris.
Correspondente de guerra na China para a revista Life e encarregado de coletar documentos fotográficos para o Museo Nacional de Lima, no Peru. Um segundo "acaso" importante precipita Verger definitivamente no campo da pesquisa. É quando descobre a Bahia em 1946. Trazido pela leitura de Jubiabá, de Jorge Amado, apaixona-se pela cidade e sobretudo pela gente que aqui vivia. Instala-se e passa a conviver intensamente com o povo. Desse convívio surge o interesse pela compreensão da sua história e da sua cultura. A partir de então, suas viagens tornam-se menos decididas pelo acaso e as circunstâncias. O que lhe interessa agora são os aspectos culturais decorrentes da diáspora negra no Novo Mundo. Insta-se na Bahia e faz sucessivas viagens à costa ocidental de África e a Paramaribo (1948), Haiti (1949) e Cuba (1957). Inicia uma incansável pesquisa sobre o culto dos orixás e sobre as influências econômicas e culturais do tráfico de escravos. Intensifica suas investigações sobre a etnia ioruba, sua influência na cultura baiana e as ligações que estabelecem entre si.
A relação de Verger com a cultura negra aos poucos ultrapassa o interesse intelectual. Envolve-se profundamente com o candomblé, onde é aceito e iniciado, e onde passa a exercer funções. Na Bahia, é Ogã no Opô Afonjá, da finada Mãe Senhora, e no Opô Aganjú de Balbino, em Lauro de Freitas. No ainda Daomé, foi iniciado como babalaô quando estudava a arte adivinhatória do Ifá, recebendo o nome de Fatumbi - renascido pelo Ifá. Como babalaô, teve acesso ao patrimônio cultural dos iorubas, sua mitologia e sua botânica aplicada à terapêutica e à liturgia dos cultos de possessão.
Verger consolida, desde repórter fotográfico, um importante trabalho histórico e etnográfico. Sua observação arguta, o despojamento, às vezes austero, dos bens materiais, sua humildade intelectual e sua sabedoria humana – baseada na simplicidade, no respeito e na verdade – certamente facilitaram sua tarefa.
Em 1966, o percurso e o talento da obra de Verger são oficialmente reconhecidos pela ciência: A Universidade de Paris, através da Sorbonne, lhe confere o título de Doutor, embora tenha Verger abandonado os estudos acadêmicos, ainda no Liceu, aos 17 anos. Com a publicação dos seus livros no Brasil, a partir de 1980, pela Editora Corrupio, sua obra passou a ser conhecida e tornou-se referência para estudiosos nas áreas da história e economia do tráfico de escravos no Brasil, sobre as religiões e a cultura ioruba em toda sua abrangência.
Os estudos de Pierre Verger podem ser agrupados em três pesquisas principais, que deram origem, por sua vez, às grandes obras, que se multiplicaram em livros, artigos, conferência, etc.: os estudos sobre os orixás e seus cultos na África e no Novo Mundo (Note sur le culte des orisha e vodoun à Bahia de Tous les Saints au Brésil et à l’ancienne Côte des Esclaves (Memória no 51 do IFAN/Dakar 1951) e Orixás, os deuses iorubas na África e no Novo Mundo (Corrupio 1982); a pesquisa fundamental sobre o tráfico de escravos, suas razões históricas e econômicas, e conseqüências culturais (Fluxo e Refluxo do tráfico de escravos entre o golfo de Benin e a Bahia de Todos os Santos (Corrupio 1985); e a pesquisa sobre a tradição oral e a botânica aplicada à terapêutica tradicional e aos cultos de possessão entre os iorubas (inúmeros artigos, entre eles Automatismo verbal e comunicação do saber entre os iorubas (versão francesa publicada em L’Homme Revue française d’anthropologie, tomo XII, Paris, 1972; Esplendor e decadência do culto de Iyami Osorongá (Artigos, Tomo I; Corrupio 1992); Lendas dos Orixás e Lendas Africanas dos Orixás (Corrupio/1981-1985) e Ewé, o uso das plantas na sociedade ioruba (Odebrecht/Cia. das Letras, 1995). Suas pesquisas despertaram, desde o início, o interesse de pesquisadores e instituições de pesquisas pelo rigor com que Verger colhia suas informações e a aparente falta de metodologia acadêmica. Sem pressa, sem perseguir hipóteses pré-estabelecidas e, como ele gostava de frisar, "sem metodologia mas simplesmente anotando o que via e ouvia; observando e esperando que a informação fosse dada no momento oportuno". Como pesquisador agia como fotógrafo; sendo fiel à documentação, geralmente muito volumosa, com a transcrição dos documentos na íntegra e sem atualização da linguagem, como um mosaico que vai se completando aos poucos. Seduzido pela beleza da Bahia e sua gente, começou a ficar curioso com o fato desse povo que, apesar de ter passado pela experiência dolorosa e humilhante da escravidão, não se deixou impregnar pelo ódio e a amargura nem pela tentação da discriminação. E logo Verger percebeu que isto derivava muito provavelmente da sua religião. Dizia sempre que o seu interesse pelo Candomblé se devia ao fato dela "desempenhar um papel social muito importante", conferindo aos seus adeptos confere a seus adeptos um enraizamento cultural, uma identidade bem definida, fundamentais para seu sentido de dignidade como indivíduo e como povo. "Aqui eles não se sentem humilhados, mas são respeitados justamente pelas coisas que lhes são próprias". O pesquisador incansável terminou aos poucos colocando sua arte fotográfica a serviço de suas pesquisas, até interromper totalmente esta atividade em 1973.
Em 1973 passou a integrar o corpo de professores da Universidade Federal da Bahia, com a tarefa inicial de implantar em Salvador o Museu Afro Brasileiro. Foi professor visitante da Universidade de Ifé, na Nigéria e pertenceu, também, ao quadro de pesquisadores do CNRS.
Pierre Verger faleceu em 11 de fevereiro de 1996. Até essa data, continuou incansável trabalho sobre sua documentação, colhida durante cerca de 50 anos de investigações, sonhando ainda em levar seu trabalho adiante através da formação um quadro de pesquisadores e auxiliares na Fundação Pierre Verger, criada em 1989 para dar guarda e proteção ao seu acervo. Pierre Fatumbi Verger seguiu sendo o mesmo homem "livre e disponível" do qual falava seu amigo Théodore Monod, no prefácio ao Dieux d’Afrique (Paris, 1954): "... fiel a sua escolha, segue no exercício profundo e correspondente da solidão e da liberdade".
(O autor e sua obra -Editora Corrupio)

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Agenda para Fevereiro e Março de 2012

Dia 11 de fevereiro: Roda de catiços das 19:00 as 22:00 hs aproximadamente. (aberto)

Dia 25 de fevereiro: Roda de catiços das 19:00 as 22:00 hs aproximadamente. (aberto)

Dia 10 de março: Oro de boiadeiro as 15:oo (somente interno)
                             Roda de catiços das 19:00 as 22:00 hs aproximadamente. (aberto)

Dia 24 de março: Roda de catiços das 19:00 as 22:00 hs aproximadamente. (aberto)


*Em trabalhos abertos com catiços, o visitante deve trazer o material do mesmo para a consulta, tais como as  bebidas, cigarros e um maço de velas, de acordo com a Entidade. Qualquer informação ligar para 9933-0914.
*Lembrando que consultas com catiços em particular e jogo de búzios somente com hora marcada.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

ETUM " A Ave Sagrada"

"Etum" ou a Galinha D'Angola, é o elemento chave das cerimônias e da mitologia da criação do universo religioso do
Candomblé.
Aves rústicas e resistentes, as galinhas d’angola são fáceis de criar mas não
são boas chocadeiras. Sua carne é comparada à do faisão, nativa da África, também é conhecida no Brasil como galinhola,
angolinha, pintada ou guiné. Apesar de estar domesticada há bastante
tempo - foi trazida da África na época da escravidão -, a galinha-d'angola
preserva ainda alguns de seus hábitos selvagens. Anda em bandos e é muito
barulhenta: seu grito é inconfundível. Por isso, uma de suas
utilidades é como guarda: quando percebe a presença de estranhos ou qualquer
anormalidade, põe-se a gritar. Em relação às características físicas,
encontram-se três tipos. A mais comum é a pedrês - cinza com bolinhas brancas.
Existem ainda as inteiramente brancas e também a pampa, resultado do cruzamento
das primeiras. Com cerca de três meses, o macho já apresenta uma crista
pronunciada para a frente, como um chifre; na fêmea, essa crista é mais
arredondada.
CONVERSA ENTRE OBATALÁ E OXUM
Obatalá... Espera, Oxum! Não posso interferir no processo de vida e morte,
mas tenho, como tu mesma tens poderes para criar e consagrar símbolos que
perpetuem um ser. Que o represente em qualquer situação e que possa ser renovado
constantemente. Um símbolo vivo de alguém que já morreu! E este símbolo deverá
participar de todos os rituais em nossa honra! E representará, com sua presença,
não só a presença de seu pupilo, como também de todos aqueles que um dia
receberam o sagrado OXU, que estabelece a aliança firmada entre o iniciado e seu
Orixá! Um símbolo que possa representar também a Terra, onde habitam seus corpos
depois de levados por IKU! A GALINHA D'ANGOLA gritaram todos em unissono. Oxum
providenciou, imediatamente, uma galinha d'angola, que naquele tempo era
inteiramente preta, e Obatalá lá soprou sobre ela pó de efun, pintalgando-a de
branco, como hoje ela é. Oxum, então, modelou, com manteiga de orí da Costa, um
cone ao qual acrescentou diversos componentes mágicos, e fixo-o sobre a cabeça
da ave, dando a ela o status de ODOXU (aquele que possui OXU), que distingue os
iniciados no Culto dos Orixás. OBATALÁ sentenciou: A partir desse dia, serás
representado, em todos os rituais, por ETUM, a galinha d'angola. Qualquer ritual
em que ela não estiver presente, não será por nós validado. Esta ave é, a partir
de agora o símbolo dos iniciados do qual foste o precursor e , por isso nascerá
provida de OXU e da pintura de efun que é feita em minha honra! É por isso que,
ainda hoje, a galinha d'angola deve estar presente em todas as cerimonias em
honra aos Orixás, e uma parte dela compõe o OXU, que é colocado sobre a cabeça
do neófito na hora de sua iniciação.

( Igbadu - A Cabaça da Existência - Adilson de Oxalá)
(A
Galinha D'Angola - J. Flavio P. de Barros)

domingo, 1 de janeiro de 2012

Trecho do Estatuto da Igualdade Racial





Como minha primeira postagem neste blog, resolvi escolher alguma coisa que marcasse a vida do nosso Brasil com relação direta em nossa cultura Candomblecista, em especial um trecho do ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL que em tese visa coibir a discriminação racial e estabelecer políticas para diminuir a desigualdade social existente entre os diferentes grupos raciais, principalmente o grupo afro-descendente. Atenciosamente,Ekedy Mariana de Osum









"ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL
CAPÍTULO III
Do Direito à Liberdade de Consciência e de Crença e ao Livre Exercício dos Cultos
Religiosos
Art. 25. O reconhecimento da liberdade de consciência e de crença dos afro-brasileiros e da
dignidade dos cultos e religiões de matrizes africanas praticados no Brasil deve orientar a ação
do Estado em defesa da liberdade de escolha e de manifestação de filiação religiosa, individual e
coletiva, em público ou em ambiente privado.
Art. 26. O direito à liberdade de consciência e de crença e ao livre exercício das religiões afrobrasileiras
compreende:
I – as práticas litúrgicas e as celebrações comunitárias bem como a fundação e manutenção, por
iniciativa privada, de espaços reservados para tais fins;
II – a celebração de festividades e cerimônias de acordo com os preceitos de religiões afrobrasileiras;
III – a fundação e a manutenção, por iniciativa privada, de instituições beneficentes ligadas às
religiões afro-brasileiras;
IV – a produção, a aquisição e o uso de artigos e materiais religiosos adequados aos costumes e
às práticas litúrgicas das religiões de matrizes africanas;
V – a produção e a divulgação de publicações relacionadas com o exercício e a difusão das
diversas espiritualidades afro-brasileiras;
VI – a coleta de contribuições financeiras de pessoas naturais e jurídicas de natureza privada
para a manutenção das atividades religiosas e sociais das religiões afro-brasileiras.
VII – o acesso aos órgãos e meios de comunicação para divulgação das respectivas religiões e
denúncia de atitudes e práticas de intolerância religiosa contra estes cultos.
Art. 27. É facultado aos praticantes das religiões de matrizes africanas e afro-indígenas ausentarse
do trabalho para a realização de obrigações litúrgicas próprias de suas religiões, podendo tais
ausências ser compensadas posteriormente.
Art. 28. É assegurada a assistência religiosa aos pacientes que são praticantes de religiões de
matrizes africanas internados em hospitais.
Art. 29. O Estado adotará as medidas necessárias para o combate à intolerância com as
religiões de matrizes africanas e à discriminação de seus seguidores, especialmente com o
objetivo de:
I – coibir a utilização dos meios de comunicação social para a difusão de proposições, imagens
ou abordagens que exponham pessoa ou grupo ao ódio ou ao desprezo por motivos fundados na
religiosidade de matrizes africanas;
II – inventariar, restaurar e proteger os documentos, obras e outros bens de valor artístico e
cultural, os monumentos, mananciais, flora e sítios arqueológicos vinculados às religiões de
matrizes africanas;
III – assegurar a participação proporcional de representantes das religiões de matrizes africanas,
ao lado da representação das demais religiões, em comissões, conselhos e órgãos, bem como
em eventos e promoções de caráter religioso.
Art. 30. O Poder Público incentivará e apoiará ações sócio-educacionais realizadas por entidades
afro-brasileiras que desenvolvem atividades voltadas para a inclusão social, mediante
cooperação técnica, intercâmbios e convênios, entre outros mecanismos"