terça-feira, 26 de junho de 2012

Crescendo entre Orixás

CRESCENDO ENTRE ORIXÁS
Crianças que praticam candomblé sentem orgulho de sua religião, mas na escola sofrem preconceito, envergonham-se e dizem que são católicas



"Aos 4 anos ele precisava de uma almofada para poder alcançar o atabaque. Escondia a chupeta atrás das costas, vestia uma camisa branca e colocava o colar de Xangô, orixá do fogo, da justiça e de quem é filho. Ricardo Nery atualmente tem 18 anos, mas aos dois anos foi "suspenso", ou seja, apontado ogan por Iansã no terreiro de sua avó, Mãe Palmira de Iansã, o Ile Omo Oya Legi, em Mesquita. Paula Esteves, do mesmo terreiro, tem 20 anos e foi iniciada aos 2 anos de idade, passando a ser conhecida como Paulinha de Xangô. Hoje é iaebé, ou "a mãe que toma conta da casa", importante função no candomblé. Noam Moreira, 14 anos, é filho de Oxalá e ogan do Ile Omiojuaro, em Miguel Couto. Michele, 15 anos e Alessandra dos Santos, 11, anos (os nomes dessas irmãs são fictícios*), são equedes (cuidam dos orixás em terra), no Axé Opó Afonjá, em Coelho da Rocha, todos na Baixada Fluminense, periferia do Rio de Janeiro. Em toda comunidade-terreiro existem diversas crianças; a maioria é levada pelos pais ou responsável e, assim como os adultos, muitas são iniciadas, desempenham funções importantes, ocupam cargos na hierarquia do culto e manifestam orgulho de sua fé.

O Orixá decide - "Aprendi olhando", dizia Ricardo Nery ainda aos quatro anos, e que sempre bateu com incrível habilidade vários tipos de atabaques. Ricardo também ensina que é o orixá quem determina a função que a pessoa terá na religião. "Ou ele mostra no jogo de búzios ou desce no terreiro, durante uma festa para dizer seu destino no culto. O meu foi ser ogan. Não viro no santo. Tenho de conhecer os toques do candomblé para chamar os orixás. São muitos toques, mas nunca tive dificuldade", revela. E nunca teve mesmo. "Já aos dois anos ele tocava até adormecer e, quando alguém o levava para a cama, despertava e voltava correndo", confirma a orgulhosa avó, Mãe Palmira de Iansã. Amigos desde crianças, Ricardo e Paulinha de Xangô cresceram no mesmo terreiro e contam que a diversão predileta de ambos quando pequenos era "brincar de macumba". Já Paulinha "vira" no santo, desde os 14 anos. "Quando eu era pequena não virava porque tinha medo de morrer se deixasse Xangô entrar em mim. Depois abri espaço para ele e perdi o medo. Hoje, quando incorporo, ando pelo terreiro e Xangô também anda. Danço eu, dança Xangô, mas sei que é Xangô dentro de mim que me movimenta", explica Paulinha.

Filha de Iemanjá, orixá das águas do mar, Joyce dos Santos atualmente tem 21 anos, fez o santo com seis e sete anos e depois realizou sua "confirmação". Passou a ser ebome, o que significa que, se quisesse, desde os 13 anos já podia ser mãe-de-santo e abrir seu próprio terreiro. "Mas não é só fazer a obrigação dos sete anos que importa. O que vale é a vivência, e isso só vem com muito tempo na religião", diz Joyce, que também recebe Oxum, orixá das águas dos rios. "Desde criança era assim. Quando estou com Iemanjá sinto um calor intenso, terrível e parece que o chão vai se abrir. Quando é Oxum eu choro o tempo inteiro. Na hora da incorporação as duas brigam pela minha cabeça, mas quase sempre Iemanjá ganha", afirma.

Quizilas - Adulto ou criança, todo iniciado (feito no santo) convive com as quizilas (èèwó), que são certas proibições determinadas pelo orixá, "dono da cabeça" do filho ou filha-de-santo. Joyce, por exemplo, não pode comer peixe de pele nem lula. "Me empola toda, é quizila de Iemanjá. Se desobedecer minha vida anda para trás", garante. Já Ricardo não pode comer abóbora ou melão porque Iansã não gosta. Mas isso nunca foi complicado para ele. "Eu mesmo não gosto de abóbora ou melão. O problema é que as quizilas também se referem ao que podemos ou não vestir. Adoro rock, mas não posso usar roupa preta, nem camisa com aquelas caveiras porque tem quizila com o santo. Se usar, algo de ruim pode me acontecer", revela o adolescente que traz dois furos em cada orelha. Mas e quanto aos brincos, será que tem quizila com santo? "Com santo não", diz Ricardo. "A quizila dos brincos é com a minha avó. Tatuagem também quero fazer, mas não posso, tem quizila com ela", brinca o ogan.

Preconceitos - Falar com orgulho do candomblé às vezes se limita aos muros do terreiro. A maioria desses adolescentes já foi ou continua sendo vítima de preconceitos. "Quando eu era pequeno uma professora me chamou de filho do Diabo", lamenta Ricardo. O pior, contudo, começou em 1993, quando a Editora Gráfica Universal, do Grupo Universal do Reino de Deus, comprou as fotos de Paulinha, Ricardo, e de uma outra criança de candomblé que foram personagens de matéria publicada em um jornal carioca, em 1992. As fotos, conseguidas eticamente e com o consentimento das famílias das crianças, passaram a ser da agência do jornal carioca e, vendidas, foram usadas de maneira depreciativa no jornal Folha Universal. Não satisfeito, três anos depois, o bispo Edir Macedo publica a 13a edição (1996) do livro "Orixás, Caboclos e Guias - Deuses ou Demônios" (o Ministério Público Federal da Bahia entrou com Ação Civil Pública para pedir a suspensão da venda dessa obra). Na tiragem de 50 mil exemplares, outra vez as fotos de Paula e Ricardo aparecem, agora sob a legenda: "Essas crianças, por terem sido envolvidas com orixás, certamente não terão boas notas na escola e serão filhos-problemas na adolescência".

"Aí foi demais, todos nós sofremos muito", afirma Mãe Palmira, que processou a editora. "As pessoas nos apontavam na rua e nos chamavam de macumbeiro, mas de forma ruim, depreciativa", diz Paulinha de Xangô. "No terreiro em que me iniciei, em Jacarepaguá, fiz as curas, aquelas marquinhas no ombro. Nunca fui com camiseta de manga curta para a escola para não deixar aparecer. Também nunca fui com os colares, tenho vergonha", lamenta Joyce de Iemanjá. As irmãs Michele e Alessandra, do Axé Opó Afonjá, chegaram a freqüentar grupos jovens católicos e até fizeram Primeira Comunhão para se sentirem mais aceitas e escapar do preconceito. "Eu amo os orixás e amo minha religião. O que eu não entendo é que, se podemos respeitar a cultura dos outros, por que não podem respeitar a nossa?", questiona Ricardo Nery.

Lei de ensino religioso pode agravar preconceito
O problema da discriminação sofrida pelas religiões afro-descendentes é antigo e a implantação da Lei 3.459, em setembro de 2000, que estabeleceu o ensino religioso confessional na rede estadual do Rio de Janeiro, não ajuda a diminuí-lo. De acordo com Valéria Gomes, coordenadora de ensino religioso do Rio, dos 500 professores de ensino religioso aprovados no concurso realizado em janeiro de 2004, 68,2% são católicos, seguidos de 26,31% evangélicos (de diversas designações) e 5,26% de "outras religiões". Neste último grupo estão professores de umbanda (com cinco contratações); o espiritismo segundo Alan Kardek (três), a Igreja Messiânica (três) e um professor mórmon. A secretaria informou que nenhum professor de candomblé foi contratado porque não há registro de alunos que praticam candomblé.

Separados por credo - A meta, segundo Valéria, não é discriminar. "Queremos que professores católicos ensinem a alunos católicos e evangélicos a evangélicos, por exemplo. Mas as turmas ainda não estão separadas por credos; enquanto isso, nosso objetivo é passar valores", explica. Contudo, de 12 professores de ensino religioso entrevistados, nove revelam utilizar trechos da bíblia que sejam comuns para católicos e evangélicos no conteúdo pedagógico de sua disciplina. Muitos utilizam textos do padre Marcelo Rossi. Uma educadora entrevistada nega que o objetivo da lei seja converter alunos, mas revela: "No ano passado eu tinha uns oito alunos que eram ogans, mas acabaram entendendo que estavam errados e hoje não são mais", comemora. Os professores entrevistados também afirmam que, apesar da matrícula nesta disciplina ser facultativa, como as escolas não conseguem elaborar outras atividades para os alunos que não queiram cursá-la, a freqüência é quase total.

Críticas - Para o deputado estadual Carlos Minc (PV-RJ), a Lei do Ensino Religioso no Rio é espantosa e só existe de maneira confessional neste estado. O parlamentar afirma que já imaginava que crianças e adolescentes de outras religiões, inclusive as de candomblé, seriam ainda mais discriminadas. "Entramos com ação no Supremo Tribunal Federal. O próximo governo pode aprovar outra lei anulando a atual. Todos estes professores são licenciados para ensinarem outras disciplinas do currículo e não serão prejudicados". Para Minc, o Sindicato Estadual de Profissionais da Educação (SEPE) e todas as faculdades de educação deveriam "comprar essa briga" e trabalhar para que os professores sejam mais pluralistas.

A lei também não agradou a Palmira de Iansã e Beata de Yemanjá, conhecidas e respeitadas Mães-de-santo da Baixada Fluminense. "Se a escola quer se meter com religião, ela deve ensinar a história de todas as religiões e não discriminar ninguém", afirma Mãe Palmira. "Se a escola discrimina os alunos de candomblé, a escola não merece nenhum respeito", sentencia Beata de Yemanjá.

(texto de : * Stela Guedes Caputo , jornalista e Doutora em Educação pela PUC-Rio. Defendeu tese com o tema "Educação nos terreiros e como a escola se relaciona com crianças que praticam candomblé", em julho de 2005. Os nomes dos professores de ensino religioso foram preservados. Os nomes das irmãs Michele e Alessandra são fictícios porque elas ocultam sua religião na escola para não serem discriminadas.)"

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Defenda o Estado Laico de Direito


"Também conhecido como Estado Secular, o Estado Laico é aquele que não possui uma religião oficial, mantendo-se neutro e imparcial no que se refere aos temas religiosos. Geralmente, o Estado laico favorece, através de leis e ações, a boa convivência entre os credos e religiões, combatendo o preconceito e a discriminação religiosa.

Desta forma, no Estado laico, a princípio, todas as crenças são respeitadas. Não há perseguição religiosa.
O Brasil é um país com Estado laico, pois em nossa Constituição há um artigo que garante liberdade de culto religioso. Há também, em nosso país, a separação entre Estado e Igreja."

Pode-se ser religioso e laico, basta respeitar o direito do outro ter suas próprias convicções. Mas tal liberdade previamente garantida concede ao indivíduo o direito de desrespeitar os direitos fundamentais do outro como costumam fazer em sua maioria os evangélicos? Até que ponto cada cidadão pode viver sua 'laicidade' sem ferir os direitos coletivos? Defenda o Estado Laico de Direito, porque política e religião não devem se misturar, somos todos um.

sábado, 16 de junho de 2012

A Fé em Crise




"Na minha própria alma, sinto a terrível dor da sua perda. Sinto que Deus não me quer, que Deus não é Deus e que ele não existe realmente." Estas palavras, escritas por madre Teresa de Calcutá numa carta a um dos seus confessores, revelam uma profunda crise de fé. Não foi a primeira e nem teria sido a última..."

  Quando uma crise de fé acha raiz em nossa vida interior, ela produzirá medo, uma sensação de escassez e pânico. Tentamos nos salvar da crise gerenciando tudo e usando o nosso próprio poder. Se você passou por uma crise de fé você sabe como ela pode fazer surgir em seu comportamento coisas que você não queria nunca mais ver. Para alguns de nós produz depressão que alguém descreveu como sendo "raiva sem entusiasmo". Para outros produz "raiva com bastante entusiasmo". Tudo isto porque achamos que nos deixaram sem apoio e o nosso tempo está se esgotando. Temos que agir porque achamos que mais ninguém vai agir por nós. Ter fé é receber livremente. Uma crise de fé é o efeito de achar que não vamos receber o suficiente .


 A crise não escolhe religião, status, tira o prazer que temos na vida e afeta todos os tipos de relacionamentos em nosso cotidiano. Vemos como agressão tudo e qualquer palavra dita , e aversão a aqueles que sempre estiveram sustentando a mesma fé. Não está tudo perdido, não estamos no caminho errado mas sim necessitamos dentro de nós de um tempo para descobrir nem que seja mais uma vez onde foi que deixamos aberto a brexa que nos envenenou

O tempo cura tudo, se precisa dele, tome-o para si mais uma vez e reflita. O Orixá vai continuar amando vc que é teu filho ... e vai com o tempo te mostrar onde vc pode encontrar novamente o seu amor, porque mesmo duvidando que ele exista,  ele continua acreditando em você. Mesmo ele te dando provas diárias de seu amor por ti, e vc continuar cego a elas, ele ainda vai estar lá para vc, te esperando.

 "No Candomblé muitas vezes entramos pela dor, pela necessidade, e não pelo amor...adquirimos o amor com a convivência. Confidencio agora uma de minhas experiências, na época em que realizava a minha obrigação de um ano, quando em uma ausência completa de fé me achei completamente só. Não tinha a capacidade de enxergar os olhos de minha mãe bem diante de mim... Estava aborrecida, chorava muito em minha reclusão e pedia somente que tudo aquilo acabasse logo para que eu pudesse ir embora para a minha casa. Foi quando dando o osé em meu igbá, pedi a ela que se ela realmente existisse e me ouvisse mostrasse a mim algo que somente eu pudesse ver... " deixe-me vê-la Mãe" roguei em prantos...pois não sendo Yawo, nunca tive a oportunidade de sentir em meu corpo a sua irradiação... " Quando ainda sonolenta na manhã seguinte, ouvi claramente uma voz feminina me chamar em alto e bom som de "FILHA" me acordando, levantei os olhos achando ser a voz da minha mãe criadeira , ninguém, aí  abri uma fresta na porta e visualizei o barracão onde todos ainda dormiam... voltei a dormir. Quando tudo acabou eu só tinha uma certeza em meu coração, eu havia ouvido a voz do meu orixá, cheio de amor e de conforto. Ela havia se manifestado a mim e eu senti enfim, vergonha de ter mais uma vez, duvidado de sua presença... Quem quiser acreditar que acredite, foi o que eu vivi...Não digo que  nunca mais hei de passar por isso, mas uso este exemplo em minha vida para que as minhas dúvidas e sofrimentos terrenos, sejam logo dissipados e minha amada Mãe Oxum volte a reinar em meu coração. IYarobá Mariana de Oxum"

terça-feira, 12 de junho de 2012

A Cartilha OKU ABO

                                
                                           
A relação dos orixás com a natureza revela um culto milenar, alinhado a uma das maiores preocupações do nosso tempo: a preservação do meio ambiente.

“Omi kosi, éwè kosi, òrìsà kosi” é um ditado yorubá que significa: “sem água, sem folha, não há orixá”. O culto aos orixás realizado pelos yorubás, povo oriundo de regiões do Benin e da Nigéria, países da costa oeste africana, deu origem, aqui no Brasil, ao candomblé. De acordo com a religião, a natureza é um espaço sagrado, de comunhão entre o mundo espiritual e o material, que deve ser respeitado e bem cuidado. Esta concepção alinha o culto milenar a uma das maiores preocupações da atualidade: a preservação da biodiversidade.



Divindades e meio-ambiente estão tão unidos, na visão do candomblé, que não é possível haver culto sem a presença de elementos naturais, especialmente, folhas. “A primeira coisa que fiz quando cheguei aqui foi andar pela vizinhança procurando plantas e ervas para usar nos rituais ou como remédio, e trazer para o meu quintal”, conta Mãe Beata de Yemonjá, yalorixá (mãe-de-santo) do terreiro Ylê Omio Juàro (Casa das Águas dos Olhos de Oxóssi), situado em Nova Iguaçu, no estado do Rio de Janeiro. Aos 77 anos, ela é conselheira do Movimento Inter-Religioso e Presidente de Honra da ONG Criola, uma organização de mulheres negras.



Mãe Beata também é co-autora da cartilha Oku Abo Espaço Sagrado – Educação Ambiental para religiões afro-brasileiras, idealizada por seu filho consangüíneo Aderbal Ashogun. A cartilha busca conscientizar candomblecistas e umbandistas – o chamado “povo de santo” – a adotarem práticas ecológicas em suas oferendas. Usar folhas de mamona ou de bananeira no lugar de pratos de louça, substituir copos e garrafas de plástico ou de vidro por cuias de coco ou bambu, alertar para o perigo de incêndio causado por velas acesas sob as árvores e explicar sobre as áreas de proteção ambiental em que se pode ou não realizar rituais religiosos são alguns exemplos do que a cartilha ensina.

Forças da natureza


Os deuses do candomblé ketu, nação mais conhecida no Brasil, são os orixás, que podem ser definidos como as forças da natureza. Eles se fazem perceber em seus espaços e elementos sagrados, como rios, mares, matas, trovão e vento, pela manifestação no omorixá (filho-de-santo), conhecida como incorporação, e pela comunicação por meio do jogo de búzios. Nas festas e celebrações dos terreiros, cada orixá se manifesta em seu devoto e se faz reconhecer pela dança, vestimentas e alimentos preferidos.



Tradicionalmente, existem três nações ou tipos de candomblé: ketu (de origem yorubá, a qual pertence grande parte dos terreiros brasileiros), Banto ou Angola (trazido pelos povos do Congo e de Angola; nesta vertente, os deuses são chamados de nkisi) e jeje ou mina-jeje (oriundo das etnias ewe, fon, mina, fanti e ashanti, do atual Benin; estes cultuam os voduns). O respeito ao meio-ambiente, no entanto, é comum às três vertentes. “A nossa religião é ecológica, nossos deuses gostam da água limpa, das folhas sadias, não gostam de poluição”, afirma Mãe Beata.

(Afroeducação)

quarta-feira, 6 de junho de 2012

A Pena Ekodidé

Ekodidé, akodide ou okodide como é chamado pelo povo do santo é uma pena vermelha, extraida da cauda de um tipo de papagaio africano, chamado no Brasil de papagaio do Gabão, papagaio do Congo ou papagaio-cinzento, Pertence à espécie psittacus erithacus, denominado pelo povo Yorùbá como Odíde.
Esta pena é utilizada nos ritos de passagem, na feitura de santo e por todos eleguns, que carregam em sua testa ou no centro da cabeça, simbolizando a realeza, honra, status adquirido pelo fato dele ter se iniciado para ser um novo sacerdote dedicado ao culto daquele Orixá, possibilitando a este individuo o dom da palavra e sabedoria no novo aprendizado desta cultura chamada de candomblé.





“Uma sacerdotisa cujo nome era Omo Òsum (filha ou descendente de Oxum) servia a Òxàlá e estava encarregada de zelar por seus paramentos e particularmente por sua coroa. Alguns dias antes do festival anual, umas seguidoras de Òxàlá  , invejosas da posição de Omo Òsum, decidiram roubar a coroa e joga-la nas águas. Quando Omo Òsum descobriu o furto, seu desespero foi profundo. Uma menina que ela criava aconselhou-a a comprar, no dia seguinte de manhã, o primeiro peixe que encontrasse no mercado. No dia seguinte, Omo Òsum não conseguiu encontrar nenhum peixe e foi somente na sua volta que encontrou um rapaz que trazia um grande peixe à cabeça. Chegando à sua casa, Omo Òsum não conseguia abrir o peixe. A garota apanhou um pedaço de faca muito usado – cacumbu – e facilmente conseguiu fender a barriga do peixe no interior da qual luzia a coroa. Chegando o dia da grande cerimônia, as invejosas sabendo que Omo Òsum havia miraculosamente encontrado a coroa, decidiram recorrer a trabalho mágico para desprestigiar Omo Òsum em frente a Òxàlá. Elas colocaram um preparado na cadeira de Omo Òsum , situada ao lado do trono de Òxàlá.
Todo mundo estava reunido e esperava em pé a chegada do grande Oba. Quando chegou, sentou-se e fez sentar-se todos os presentes. Em seguida pediu a Omo Òsum que lhe desse os paramentos. Quando ela quis levantar, foi incapaz de fazê-lo. Tentou veementemente várias vezes a conseguir, enfim, mas o preço do grande esforço foi desgarrar as partes baixas de seu corpo que começaram a sangrar copiosamente, manchando tudo de vermelho. Òxàlá, cujo tabu é o vermelho, levantou-se inquieto, e Omo Òsum, aturdida e envergonhada, fugiu. Segue-se uma longa odisséia durante a qual Omo Òsum foi bater à porta de todos os Orixás e nenhum deles quis recebê-la. Enfim, ela foi implorar ajuda de Oxum, que a recebeu afetuosamente e transformou o corrimento sangüíneo em penas vermelhas do pássaro odide, chamadas ekódidé ou ikóóde, que iam caindo dentro de uma cabaça, colocada para recebê-las. Diante desse mistério – awo – a transformação do corrimento de sangue em ekódidé, todos regozijaram-se, começando os tambores a rufar e a correrem de todas as partes para assistir ao acontecimento: Yèyè sawo: Mãe fez mistério (Mãe conhece segredo, é mistério).

A festa se organizou e todas as noites Oxum abria as portas para receber os visitantes que, entrando, apanhavam um ekódidé e colocavam cauris (dinheiro) na cuia colocada ao lado. Todos os Orixás vieram tomar parte no acontecimento. Finalmente, o próprio Òsàlá foi atraído pelas festividades. Apresentou-se em casa de Oxum e, como os outros, saudou-a fazendo o dòdòbálè, apanhou um ekódidé e o prendeu em seus cabelos. Um cântico relembra para sempre essa circunstância: Òdòfin dòdòbálè k’obinrin – Òdòfin (Òrinsàlà) saúda prostrando-se frente à mulher. Mesmo o grande Orixá Funfun faz o dòdòbálè – alongando-se no solo, tocando-o com o peito em sinal de respeito e de submissão – diante do poder de gestação”.



(Lendas dos Orixás- Pierre Verger)











segunda-feira, 4 de junho de 2012

Oxum: Pilar Que Sustenta nossa Casa





Òsun mo pé ó o!
Mo pé ó sí níní owo.
Mo pé ó sí níní Omo.Mo pé ó sí níní àláfià.
Mo pé ó si òrò.
Kí àwa má ríjà omi o,
Kí ilé má jò wá.
Kí ònà má nà wá o.
Pèsè àse fún wá o.
Kí àwa má ri Ogun idilé.







Diferenças entre Candomblé e Umbanda

                   
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Candomblé é diferente de Umbanda
"Elucidar de uma forma definitiva a diferença entre Candomblé e Umbanda, é um dos meus grandes objetivos com esta obra, pois a frase mais comum que ouvimos como candomblecista, após uma explanação mesmo que resumida é que: eu achava que tudo era a mesma "coisa". O que primeiro respondo quando me perguntam sobre a diferença entre Candomblé e Umbanda, é que: não há semelhança, esta eu considero a melhor resposta, pois é o fato, não há a menor semelhança. A começar pelas origens, o Candomblé é uma religião africana que existe desde os tempos mais remotos daquele continente, que é o berço da terra, Umbanda é deste século, e utiliza os orixás do Candomblé, sob outra forma e outro aspecto.
 De uma forma básica, no Candomblé não existem "incorporações" de espíritos, pois os orixás, de quem sentimos força e vibrações, são energias puras da natureza, que não passaram pela vida, ou seja não são "entidades", mas elementais puros da natureza, criados por Olodumaré (Olorum). No Candomblé a consulta é feita através da leitura do jogo de búzios (no Brasil), forma de leitura exclusiva do povo candomblecista, pois este tem seu princípio e seu fundamento, e o tratamento para cada caso, é feito com elementos da natureza, oriundos dos reinos vegetal, animal e mineral, através e ebós, oferendas, rezas e rituais africanos.
A Umbanda por sua vez, é uma religião brasileira,  que advém do sincretismo católico, necessário em uma época de grande repressão das religiões africanas, em que era proibido o culto dos orixás na sua forma de origem, e esta adaptação se fez necessária, a partir desta premissa, a Umbanda começou tomar corpo, com conhecimento de alguns africanos no trato com seus ancestrais, que era comum a "incorporação" de algum ente falecido, por um elégún (aquele que é montado por) por motivos familiares. É muito comum nos dias de hoje, Ilês que praticam Candomblé e Umbanda, porém em dias, horários e formas diferenciados. Nestes Ilês as Entidades são tratadas como "Catiços". 
A Umbanda por sua vez, a consulta é feita através de um médium incorporado , e os trabalhos pelo espírito ali incorporado com seus elementos rituais. a única manifestação semelhante no Candomblé, é a figura do Erè, que, assim como o orixá, é um elemental da natureza, com uma conduta infantilizada, e que nunca passou pela vida, portanto não é um egun (espírito de morto), tem função específica, uma delas, se comunicar pelo orixá, justamente pelo fato de que ele não fala, que nos referimos como "estado de erê", tal pessoa está com, ou de, erê."
   



















Ambas as duas religiões de Matriz Africanas tem a sua beleza e se bem tocadas e administradas trazem ao coração do praticante paz, conforto e amor. Aconselho que , se em dúvida,  antes de um simpatizante tomar a sua decisão, deve trilhar os caminhos de ambas e procurar conhecer ambas e se juntar ao destino daquela que mais lhe tocar o coração. Boa jornada.

  (trechos do texto de Candomblé sem Misterios)








sexta-feira, 1 de junho de 2012

Jardim das Folhas Sagradas : Trailler


Jardim das Folhas Sagradas é um longa de ficção construído a partir de Bonfim, um bancário bem sucedido, negro e bissexual, casado com uma mulher branca e de crença evangélica. Ele vive na Salvador contemporânea e recebe a incumbência de montar um terreiro de candomblé no espaço urbano. Para isto, enfrentará a especulação imobiliária numa cidade de crescimento vertiginoso, o preconceito racial e a intolerância religiosa. Este homem, embora questione a tradição da própria religião, tem a missão de montar um ambiente sagrado e de respeito à natureza, superando as contradições e conflitos trazidos pela modernidade.