sábado, 14 de janeiro de 2012

Olodumare e a criação do mundo

    Ao contrário do que se pensa, o Candomblé é uma religião monoteísta, ou seja, seus fiéis acreditam em um único Deus Supremo, chamado por muitos nomes em virtude de contrações e adaptações das línguas africanas, principalmente o Iorubá. Os dois nomes mais conhecidos do Ser Supremo são Olodumare e Olorum. A palavra Olodumare é contração das palavras Ol' (oni) odu mare (ou ma re ou mo are). A palavra Ol' (oni) significa senhor, parte principal, líder absoluto, chefe, autoridade. Odu traduz-se como algo muito grande, um recipiente profundo, algo muito extenso, pleno. A parte final do nome Olodumare parece ser originada tanto de mare (aquele que é absolutamente perfeito, o supremo em qualidades), quanto das combinações ma re (aquele que permanece, aquele que sempre é) ou mo are, que é aquele que tem autoridade absoluta sobre tudo o que há no céu e na terra e é incomparável. Já o nome Olorum é resultado da contração de Ol' (oni) e Orum, que quer dizer céu, designando o Senhor do Céu.







 Olodumare não recebe cultos diretamente, porém sempre que uma divindade é cultuada em suas orações é lembrado à Olodumare  para que aceite o pedido. Assim, Olodumare é infinito, ou seja, tem todas as perfeições em sumo e ilimitado grau.
A natureza é um conjunto indivisível no qual tudo está contido- a totalidade do universo está presente em todas as partes e em todos os tempos que possam ser considerados. Sem dúvida alguma, existe uma interação completa e misteriosa entre todos os elementos do universo e essa interação une o universo numa única totalidade.


Assim como nas demais religiões monoteístas, segundo o Candomblé, Olodumare criou o mundo material e tudo que está nele, inclusive o homem. Para ajudá-lo nessa tarefa, Olodumare criou também os Orixás, forças sobrenaturais que habitavam o Orum (Céu) e se concretizaram associados às forças da natureza e seus elementos, manifestando-se através desses.



                                                 Lenda da criação do mundo:








Conta a lenda que no princípio dos tempos existiam dois mundos: o Orum, espaço sagrado dos orixás, e o Aiyê, espaço dos seres vivos. No Aiyê primitivo só existia água. Um dia Olodumare resolveu recriar o espaço para a humanidade que também criaria. Incumbiu, então, seu filho primogênito, Orixalá (o nome mais sagrado de Oxalá) da execução dessa tarefa. Entregou-lhe uma cabaça contendo ingredientes especiais: a terra escura inicial, a galinha de cinco dedos, uma pomba e um camaleão. A terra escura deveria ser lançada sobre a imensidão das água . A galinha de cinco dedos deveria ir ciscando a terra para alargá-la o mais que pudesse. A pomba, ao voar, orientaria a extensão da terra expandida e criaria o ar. E o camaleão, atento a tudo, observaria a execução da tarefa atribuída a Orixalá, para reportar os fatos a Olodumare. Assim foi explicado e, com seu cajado (opaxorô) e a cabaça da criação, Orixalá iniciou sua caminhada do Orum para o Aiyê. Passou por Bará (Exu) e não pagou as oferendas devidas, mesmo tendo consultado Ifá e sabendo que devia fazê-lo. Em conseqüência disso, no meio do caminho Orixalá sentiu-se cansado e com sede. Parou para descansar, bebeu um pouco de emu (vinho da palmeira do dendezeiro) e, embriagado, adormeceu. Seu irmão caçula, Oduduà (mais um nome da família de Oxalá), tendo-o seguido, recolheu a cabaça da criação e levou a notícia do ocorrido a seu pai, Olodumare, pedindo a ele que o deixasse cumprir pelo irmão aquela tarefa de grande importância. Olodumare concordou e, enquanto Orixalá dormia, Oduduà criou a terra dos seres vivos. Depois de a galinha ciscar a terra, a pomba orientar a expansão do ar e o camaleão, que deu origem ao elemento fogo, verificar se a tarefa fora cumprida, surgiu a terra firme ou Ilê Ifé (que no idioma yorubá significa "terra que foi sendo ciscada"). Orixalá então, vendo o mundo pronto, mostrou-se arrependido do seu ato de irresponsabilidade perante o pai. E, para que não se sentisse tão humilhado   Olodumare lhe deu outra tarefa de tanta importância quanto a primeira: a de criar o homem que habitaria o Aiyê. Orixalá usou o barro e a água para esculpir bonecos inanimados de todas as formas e de todas as cores. Olodumare, então, soprou a vida nas narinas dos bonecos de barro, criando os seres humanos. Esse sopro da vida é chamado pelos yorubás de emi. Estavam então criados o mundo e o homem.
(Texto de "Associação Cultural Ilè Asé Odé Ìgbò")